Teatralidades-Imagéticas-outros espaços.
Uma pequena investigação cênica sobre um outro humano possível.
Poéticas em movimento para o que vai nascer.
Uma residência artística do COATO – BA com o PHILA7 – SP

A residência do grupo Coato com o Phila7  foi contemplada com o edital 001/2016 de Mobilidade Artística e Cultural do Governo do Estado da Bahia. Publicado no Diário Oficial com data em 09 de novembro de 2016 da Republica Federativa do Brasil – Estado da Bahia.

Artistas interdisciplinares, coletivos e cientes da necessidade de agrupar-se para fortalecer e promover a manutenção da pesquisa no âmbito das artes cênicas, a pouco mais de dois anos passamos a nos identificar com a nomenclatura COATO. A atração poética pelo uso da mediação de equipamentos tecnológicas que potencializam o discurso da obra é o nosso foco de investigação, e assim aproximar cada vez mais a comunidade dos espaços reservados para os eventos artísticos. A todo tempo consideramos que os eventos teatrais/performáticos possibilitam a hibridização de ferramentas cênicas em função de aperfeiçoar as formas de acessar ao espectador; este espectador contemporâneo que vive inserido na Era da internet; este que acompanha os avanços da tecnologia; este capaz de conectar-se, ver e ser visto em qualquer lugar cercado pela rede, este espectador se torna a cada dia mais exigente no que diz respeito à atração pelas obras teatrais. Consideramos pertinente o investimento nas diferentes mídias para que sejam absorvidas pela encenação abrindo novos caminhos estéticos possíveis para as artes cênicas, aproximando do espectador, cada vez mais a cenografia, iluminação, e principalmente, a forma como o performer se comunica durante a encenação.

Em 2016 estreamos Maçã – um acontecimento cênico, a partir de uma ocupação realizada no Laboratório de Experimentações Estéticas do Museu de Artes da Bahia, entre Fevereiro e Maio de 2016, decidimos investir num trabalho onde as câmeras se tornaram uma lente de aumento para potencializar detalhes não tão visíveis olhos do publico. O uso artístico dos recursos visuais passaram a contaminar a encenação pelas diversas possibilidades de comunicação e provocação de sentidos à recepção do outro(a), a câmera passa a ser personagem, “pessoa que segura uma câmera na frente de outra, e é claro, toda a equipe que acompanha essa pessoa torna esse movimento parte da encenação” (Jean Rouch), está necessariamente participando daquilo que narra, ela é manipulada durante a cena, captando imagens que são exibidas ao vivo, enquanto o publico assiste o produto gerado, ele pode também escolher assistir a contrarregragem dançada pelos corpos performativos ali presente.

Este projeto possibilita a re-união de duas potências no estudo de diferentes meios de expressão: teatro, dança, performance, vídeo, instalação, etc. e mídias tecnológicas, interação entre corpos reais (presença) e virtuais (tele-presença) para os seus processos artísticos. O coletivo PHILA 7 – SP  e a Professora Doutora Coordenadora do grupo de Pesquisa, vinculado a Universidade Federal da Bahia, Poéticas Tecnológicas: corpo áudio visual, Ivani Santana. O encontro proporcionado por este projeto, proposto pelo COATO – BA, será primordial para a formação, manutenção, maturação da pesquisa já desenvolvida pelos artistas do COATO. A residência artística com o Phila 7 em São Paulo permitirá experimentar interações corpo/voz com o uso de recursos digitais, aprimorar as técnicas no uso dos aparelhos tecnológicos para a cena, vivenciar práticas de captação de imagens, experimentações laboratoriais entre artistas pesquisadores, ampliar as possibilidades de uso dos recursos midiáticos disponíveis, além de ter acesso ao repertório de uma companhia com 11 anos de trabalho reconhecido mundialmente como pioneira no estudo da “imagem e da tecnologia como ferramentas para o desenvolvimento de novos caminhos para as artes cênicas”, principais trabalhos:  A Verdade Relativa da Coisa em Si (2005), Play on Earth (2006), WeTudo DesEsperando Godot (2009), What´s Wrong with the World?, Profanações, Aparelhos de Superar Ausências, O Homem da Camisa Branca.

Phila7

O Phila7 trabalha, nas relações da cena teatral, com as novas tecnologias midiáticas, compreendidas como expansões da percepção humana. Desde sua criação, em 2005, o Phila7 foi alvo de diversas teses acadêmicas e consolidou um sistema criativo próprio que se aprimora constantemente. Destacam-se experimentos que valorizam a dramaturgia, a atuação performativa e o trabalho colaborativo. Play on Earth conectou, em tempo real, pela internet, três continentes. A Verdade Relativa da Coisa em Si colocou a dubiedade da mídia em cena. WeTudo-DesEsperando Godot tirou da imobilidade os personagens de Beckett, lançando-os na rede. O Homem da Camisa Branca revelou o homem invisível diante da mídia. Em Crush temos uma experiência imersiva na dança audiovisual. Occupy All Streets criava uma intervenção performático-imagética que se articulava nas redes e nas ruas. Em  Aparelhos de Superar Ausências, propusemos outra possibilidade para o que chamamos de Humano.

E, ainda que não haja nada, algo nos move.

Quando entramos nas redes e nos conectamos com uma parcela da humanidade, mesmo que seja com seis graus de separação, sentimos o quanto de ódio, preconceitos, vilanias e verdades imutáveis define o nosso estar no mundo.

E também ficamos, por instantes, sem ação, paralisados, quando a multidão berra a voz de um novo corpo, algo ainda incompreensível. Ali nasce uma pré-linguagem que antecede qualquer movimento nomeável. A crise das narrativas que aspiram a ser nossa imagem e semelhança cria novos paradoxos.

O universo, a Terra, a vida, na sua espantosa diversidade, é pura poesia. Fluxos criativos e de renovação que emergem, para além do bem e do mal, na sua infinita multiplicidade.

Em algum momento de nosso percurso trocamos esses fluxos, que também nos habitam, por uma história escrita em sangue; territorial, egoica, abismal.

O indivíduo é um território tirânico governado por suas pretensas Verdades.

Quando somos atravessados pela multiplicidade, por fluxos de infinitas possibilidades que nos levam para um campo expandido de estar no mundo, sentimos a estranha e bela experiência de abandonar a ideia insuportável de “termos de ser quem somos”.

Tudo nesse momento pode parecer estéril e, aparentemente, voltar ao seu lugar. Mas o lugar já não é mais o mesmo. Não há mais domínio nem território seguro. Temos pedaços, vestígios, um terreno baldio sem vigia, espaço de abandono e silêncio, onde a falta é condição do desejo. Nascem, então, por entre as rachaduras do concreto, pequenas e ainda frágeis raízes, que, conectadas nos invisíveis subterrâneos, aos poucos, preenchem com vida as frestas de tudo que quer imutável.  Que nesse instante diferentes vozes possam ecoar.

Phila7

Ficha Técnica

COATO
Daniel Lima
Giovani Rufino
Marcus Lobo
Simone Portugal
Ixchel Castro (voz em off)

Phila7
Beto Matos
Marcos Azevedo
Marisa Riccitelli Sant´ana
Paula Malfatti
Rubens Velloso

Preparação Telemática: Ivani Santana
Cenotecnia: José Da Hora

Serviço:
Teatro Centro da Terra
Dias 07; 08; 14 e 15 de abril às 21hs
Dia 09/04 e 16/04 às 19hs
Faixa Etária Indicativa: 14 anos