Teatro intercontinental, em tempo real
O Globo
Suzana Velasco
Segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

Espetáculo transmitido e interpretado simultaneamente em três países, ‘Play on Earth’ chega ao Rio em 2008
No ano passado, o público paulistano viveu uma experiência nova no teatro: três telas transmitiam simultaneamente – e em tempo real – peças em Cingapura, Inglaterra e Brasil. Cada lugar as transmitia para os outros dois o que se passava em seu próprio palco. A experiência do “Play on Earth” se repetirá num novo formato, em abril de 2008, no Oi Futuro.
Muito mais do que uma conexão on-line, os atores vão interpretar uma narrativa em comum, interagindo uns com os outros e dando origem a um só espetáculo.
Encontros e ensaios serão feitos via internet
Para conhecer o teatro do centro cultural e pensar sobre a dramaturgia, a linguagem e a tecnologia da empreitada, os diretores que participam do projeto estiveram no Rio na semana passada: o brasileiro Rubens Velloso, da Cia. Phila 7, de São Paulo; o australiano David Pledger, do grupo Not Yet It”s Difficult; e o inglês Julian Maynard Smith, da Station House Opera. Só faltou o indiano Pushan Kripalani (Industrial Theatre Company), que deve encontrá-los em janeiro.
Mas, até a estréia, a maior parte de encontros e decisões e todos os ensaios serão via internet.
– Independentemente do fuso horário, a gente atua junto, em tempo real, considerando o delay (atraso na transmissão das imagens de um país para o outro) – diz Ve l l o s o .
É um problemão, mesmo que dos bons, para os atores, que precisarão lidar com deixas vindas de outros cantos do mundo – e com um atraso, que, mesmo de dois segundos, pode ser muito para um ator -, uma interpretação que deve se adequar ao teatro e ao cinema, ponto eletrônico e microfones para que seus diálogos cheguem aos outros continentes.
O ator Beto Matos lembra quando, num dos espetáculos em São Paulo, no ano passado, a conexão da internet falhou por três min u t o s : – Tivemos que improvisar e, quando a transmissão voltou, estar prontos. E é isso que atrai no teatro, o ator poder tropeçar, estar ao vivo.
A platéia percebeu a interrupção e, segundo Velloso, adorou: – As pessoas sentiram o que de fato era o projeto. A idéia para a encenação ousada partiu de Julian Maynard Smith, que já havia feito alguns trabalhos com performances em vídeo servindo como um duplo da atuação ao vivo. Agora, essa idéia se volta para a integração virtual do “Play on Earth”, em que os atores de cada país por vezes interpretarão o mesmo papel. A idéia é que a história se passe num hotel, ambiente que, sem esforço, remete ao cruzamento de c u l t u r a s .
– Será ambíguo se é o mesmo personagem ou personagens distintos. É para se pensar sobre o que há em comum entre as pessoas e o que há de autonomia individual – diz Smith.
Apresentações seguem a mudança de fuso horário
No ano que vem, serão 15 espetáculos, cinco de cada, realizados no horário nobre de um dos três países, numa divisão democrática. Isso fará com que certas apresentações no Rio comecem às 7h.
Também os ensaios, necessariamente com os atores de todos os países juntos, começarão, no Brasil, às 7h. A companhia paulistana vai precisar se mudar temporariamente para o Rio, porque terá que ensaiar no teatro, com todas as marcações de câmera. Melhor do que se apresentar às 3h e às 5h, como chegou a ocorrer no ano passado.
– Como é muito moderno, todos os clubbers irão ao espetáculo diretamente da noite – brinca Velloso.